domingo, 24 de outubro de 2021

Estrela no céu

 


Daniela Arfeli

Semana passada, estava com minha filha, de três anos, no parquinho.  Brincávamos com as crianças que chegavam, que não eram muitos, pois no momento pandêmico, somos privados de interação social.

De repente, apareceu uma menina, de seus seis anos, com muita vontade de interagir, conversou conosco. Minha filha vibrava de alegria por brincar. Foi um momento de grande felicidade pueril.

Ficamos, ali, rindo e tagarelando. Até que a menininha apontou a sua vovó, querendo apresentar para mim.

- Veja, minha vovó Luísa, ali! – Exclamou com tamanha exatidão.

- Onde? Não estou vendo- questionei.

- Está ali, bem ali! – respondeu a menina.

- Olhei, atentamente, mas novamente não a vi.

- É a estrela mais brilhante do céu!

Então, compreendi que as crianças tem um jeito peculiar de entender a partida de um ente querido. Assim, eu queria que fosse minha primeira crônica, tão brilhante como aquela estrela no céu. E tão pura como a alegria daquela menina.

Dor de mãe( Dani Arfeli)

 


Ser mãe dói
E não é uma dorzinha qualquer
É dor que sangra, corrói
Como o da Virgem Maria
Aos pés de Jesus
No momento da Cruz.

Ser mãe dói,
Mas, multiplicar a vida
Por delegação de Deus,
É a maior dádiva
Que a mulher pode ter!!!

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

A Dor do chifre

 

Vivia tranquilo debaixo das sombras de minhas mangueiras e respirava os verdes perfumes dos eucaliptos que ladeavam o sítio. Eu e minha esposa após quarenta e quatro anos de eterna união gozávamos de enorme afinidade como um jovem casal apaixonado. Era minha companheira inseparável, cuidávamos da nossa propriedade rural. Juntos fazíamos os inúmeros trabalhos campesinos, principalmente, na ordenha e, nas horas vagas, preparávamos doces caseiros e queijos frescos.

A nossa rotina era tão sagrada! Maria acordava, pontualmente, os setes dias da semana, às 4:00 horas da manhã. O cheiro aveludado do café e as palavras de imensa doçura da minha esposa eram meu despertador. Como um ritual, escolhia minha roupa, calçava meus sapatos, ajeitava minha cinta.  Após todo o cuidado, tangíamos as vacas ao curral. O milagre branco jorrava como enxurrada.

De repente, uma grande ventania assolou nossa vida. Em meados de março, numa madrugada, com céu enfumaçado, cheia de nuvens negras e frias. A dor acinzentou todo o meu ser. O curral ficou manchado de sangue... Não esperava passar por dolorosa situação.

Vocês nem imaginam o que aconteceu...

Dor, após dor, despencava. Sentia minuto a minuto fagulhas me consumindo. Eu estava dentro do estábulo e, senti, a Dor do chifre.

- Não... não pode ser! Não, meu Deus! – gritava e gemia na escuridão daquela triste manhã.

Que Dor! Estremeço ao recordar; tento esquecer, mas é impossível! A mais zelada, mansa e amável das vacas, ligeiramente, ergueu a cabeça quando eu ainda a amarrava e, estupidamente, o chifre atingiu meu olho. Não, não foi traição, Mansinha,  jamais me trairia. Fez sem imaginar a crueldade, na pura inocência, me feriu.

Tudo escureceu... A dor rasgou meus sentidos. Doeu minha carne! Corrompeu meu ser. Senti meu olho esquerdo des-man-chan-do.

Ah, vaga lembrança que ainda perfura meus sonhos, aniquila meus sentidos! Sinto ainda o grito deformar minha infinita alegria. Após três dias de internação, o oftalmologista dilacerou minhas esperanças quando declarou que a minha retina havia deslocado e meu nervo óptico rompido.

- Doutor, que tipo de cirurgia posso fazer para recuperar minha visão? – indaguei, transtornado.

-Infelizmente, não é possível reverter o quadro! – respondeu, o médico com tamanha secura e exatidão. - Para rompimento de nervo óptico, nada pode ser feito. Esta situação é irreversível! Agora, você terá que se acostumar com a visão monocular.

Como viver com esta triste constatação? A minha visão havia morrido e levado junto, as últimas esperanças. Reflexões, conselhos, visitas, mais visitas. Estava, realmente, sem rumo. Eu não conseguia aceitar que estava C-E-G-O.

O tempo foi se entrelaçando como um fio. Fui observando cada detalhe e percebi que Deus faz, em silêncio, tudo perfeito. E neste silêncio aprendi a contemplar as maravilhas divinas: o mistério da borboleta que deixa o casulo. E, foi neste silêncio que aprendi a viver sem enxergar com meu olho esquerdo; aprendi que poderia ter sido pior se o chifre da vaca fosse mais fino e comprido. Com serenidade aprendi a ouvir a voz de Deus que tocou profundamente meu coração. Aprendi a ver o lado bom e verdadeiro da vida. Compreendi olhar verdadeiro e singelo de Maria, o companheirismo da família como o principal passaporte para a felicidade. Reaprendi a enxergar com o coração.  Agora meus olhos fitam o cheiro do amor e a satisfação quente de uma manhã de sol. A minha vida segue saborosa como a alegria das sete cores do arco-íris. E Mansinha, protagoniza, o nosso sustento produzindo mais de dez litros e tendo mais e mais crias. Ensinando- me a necessidade de perdoar para ser feliz. Um dia eu e Mansinha nos separaremos, mas que isso seja pela vontade de Deus.

Biografia

 


Daniela Aparecida Ferreira Arfeli mora em Teodoro Sampaio - SP, com seu grande amor Givanildo Ferreira e tão esperada filha Maria Clara.  É mestra em Letras, pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), especialista em Língua Portuguesa pela UNICAMP. Tem licenciatura em Letras e Pedagogia.

Trabalha como professora estadual há mais 22 anos. Sendo 14 deles, dedicados à Escola Estadual Assentamento Santa Clara, município de Mirante do Paranapanema - SP.

Participa da Associação de Escritores e Ilustradores de Teodoro Sampaio – AEITS. Escreveu o livro: O Poder da Família – A arte de Viver e Conviver, em coautoria com sua irmã gêmea Denise, em 2014.  Para autora, “Escrever é sentir. Fazer com palavras a arte da reflexão”.

 

 

Autêntico Amor de mãe

 


Por acaso filhos, já imaginaram viver sem o amor de mãe?

Como relutar em não honrar a este mágico ser

Que, milagrosamente, recebeu

a dádiva sagrada: ser anjo protetor.

 

De fato, não há maior bênção: 

Que multiplicar a vida por delegação de Deus

Conduzindo à santidade, os filhos teus.

 

Viver sem mãe acontece,

Ora na morte, ora no acaso.

Mas, ninguém será decepcionado

Se a mãe de Deus ter invocado.

 

Portanto, só seremos, verdadeiramente, felizes

Sob a proteção materna

De MARIA, mãe da humanidade.

Com honra e perdão

A mãe biológica,

A maedrastra

E, as pessoas que fazem o papel de mãe.

 

 

 

 

quinta-feira, 31 de maio de 2018

A dádiva divina da maternidade


És bendita, Mulher!
Recebeste o dom sagrado da maternidade,
O milagre da criação da humanidade.
Multiplicaste a vida por delegação de Deus,
Conduzindo à santidade, os filhos teus.

És cheia de graça, Mulher!
Protagonizaste o amor ágape a cada momento,
Agradecendo a Deus, em todo canto:
A dádiva divina maternal, no riso e no pranto,
Com versos de acalanto. 



quinta-feira, 15 de junho de 2017

A sorte de Maria

Maria era excessivamente pensativa, ficava horas e horas refletindo sobre a vida, o que fazer, como fazer, qual seria seu melhor comportamento; chegava até a ferver o cérebro de tanto imaginação. Não tinha nenhuma vaidade, usava roupas simples e discretas, cabelos sempre presos e batom era raro usar.
Os pensamentos eram somente negativos, pensava que tudo poderia dar errado. Tinha medo de todos e de tudo. Medo de dirigir, pegar carona na garupa de uma moto. Bicicleta nem pensar, ônibus sentia-se sufocada e tinha muita falta de ar. Então, o jeito era ir ao trabalho a pé, tinha inúmeros guarda-sóis e guarda-chuvas.
Trabalhava por trabalhar, não tinha projeto de vida, exercia sua função como quem faz arroz e feijão todos os dias, não acrescentava nenhum ingrediente. Era aquilo e mais nada. Trabalhava no setor de limpeza ILLEROM LTDA, fábrica de calçados em Pacaembu, pequena cidade da Nova Alta Paulista.
Aos poucos, as pessoas ao seu redor foram se afastando e correndo dela. No trabalho quando chegava, todos cochichavam baixinho “lá vem a Maria Doida”, vamos correr enquanto temos tempo.
A vida seguia seu percurso e Maria foi ficando pelos cantos: solitária, desiludida, ansiosa e sem nenhum entusiasmo. Era excluída de todas as conversas, presentes e confraternizações da fábrica.
A solidão virou doença, ia ao médico, fazia todos os exames, no entanto o exame físico não demonstrava nada.  Ela não se conformava, como podia não ter dado nada, se doía todo o seu corpo. Já não dormia mais, seus olhos ficavam cheios de olheiras. Apresentava rosto pálido e muito cansado.
Sexta-feira à tarde, quando ela saia, toda tonta e atrapalhada do trabalho foi atropelada por uma carroça, deu de frente com o burro de Seu Pedro, testemunhas confirmaram que a carroça estava em alta velocidade. Maria ficou toda machucada, sangrando e chorava desesperadamente até chegar a ambulância.
Seu Pedro ficou muito chateado, apavorado quase sem voz a acompanhou na ambulância para saber exatamente o estado da quarentona, enquanto alguns amigos recolheram as frutas que trazia à cidade para vender, o chapéu, o burro e a carroça.
Após o atendimento, saiu Seu Pedro sozinho porque Maria ficou internada. Quebrou a perna esquerda e o braço direito. Coitada!!!
No outro dia, na hora da visita, lá estava Seu Pedro com as frutas e o doce de abóbora, porque Maria não tinha parentes na cidade e nem amigos.
Segunda-feira, Maria teve alta e foi direto para o sítio de Seu Pedro e de lá nunca mais voltou para trabalhar na fábrica. As fofoqueiras da cidade comentaram que ela sarou, está gorda e vive cantarolando em cima da carroça, ajudando Seu Pedro a vender frutas. Algumas juram que viram os dois se beijando.